As operações conhecidas por “Barter" ou Troca de
Insumos por Grãos tornaram-se o principal mecanismo de financiamento da
produção agrícola, justamente pelo desinteresse dos Bancos de afrontarem os
Riscos e de constituírem linhas de crédito ajustadas ao ciclo agronômico,
comercial e financeiro do setor.
Num primeiro momento, para os Produtores de pequeno
porte e eventualmente de baixa escolaridade, a conversão de um pacote de
insumos em sacos de Soja ou de Milho para entrega na colheita trouxe certa
“previsibilidade” e não faltaram argumentos de marketing das empresas aludindo
que esse mecanismo simplificaria os processos no campo, traduzindo os custos na
“Moeda
do Produtor”.
Não obstante, se bem essa alternativa realmente facilitou
o entendimento de que para produzir 1 hectare de Milho são necessários X sacos,
numa determinada equivalência-preço, é indiscutível que essa modalidade de
comercialização e de financiamento dos insumos traz uma série de custos ocultos
que, na maior parte das vezes, são superiores aos disponíveis no mercado
financeiro.
Essa assimetria de informação ocorre, em parte, por
causa do desconhecimento dos Produtores sobre os parâmetros que compõe a formação
dos preços dos principais insumos utilizados na lavoura.
Informações fundamentais como o comportamento da
Oferta e da Demanda específica de um determinado insumo a nível mundial soa
como algo distante, impossível e que não está no Radar dos interesses da maior
parte dos Produtores.
Na via oposta, os fabricantes de insumos conhecem
muito bem a composição dos custos agrícolas, os mecanismos de financiamento
disponíveis, de que forma os clientes obtém lucro e os riscos a que estão
submetidos. Contam com profissionais competentes para gerar coberturas contra
flutuações de preços, focados na captura das melhores margens possíveis para o
negócio.
Como se diz popularmente: “O Jogo é Bruto”. Ganha quem estiver melhor preparado.
Do ponto de vista jurídico e financeiro, as operações
de Barter envolvem um conjunto de obrigações onerosas:
- Entre 130% a 150% do valor negociado como penhor da
produção registrado numa CPR – Cédula de Produto Rural;
- Hipoteca da propriedade, normalmente registrada numa
única matrícula, com todas as despesas cartoriais correndo por conta do
Produtor.
A indisponibilidade das garantias do Agricultor limita
a capacidade de tomar linhas de Capital de Giro.
Da leitura dos balanços de empresas de Defensivos
Agrícolas publicados no exterior, se extrai o entendimento de que boa parte da
rentabilidade diferenciada que se obtém no mercado brasileiro é originada em
operações de Barter e na arbitragem de taxas de juros (diferença entre o custo
de captação da multinacional e o custo financeiro praticado pelos Bancos daqui,
os quais são repassados aos Distribuidores e Produtores).
Os Agricultores mais bem informados sabem que os juros
nos países desenvolvidos são extremamente baixos e em alguns casos até negativos.
Enquanto no Brasil, os Bancos podem cobrar pelo desconto de uma duplicata algo entre
2% a 3,5% ao mês.
A precificação dos Defensivos Agrícolas oferecidos nas
operações de Barter inclui:
a) Margem de Lucro do Fabricante + Custo Financeiro do
“Prazo-Safra” + % de Risco de Inadimplência;
b) Margem de Lucro do Revendedor + Custo Financeiro
determinado pelo Fabricante (que embute o % de Inadimplência e eventualmente
outros encargos).
Quando o vendedor dos Insumos é uma Trading,
eventualmente, os preços poderão ser melhores do que as Revendas devido a
diferença na escala de compra, por oferecerem um Risco de Crédito muito menor
ou simplesmente por pagarem à vista ao Fabricante.
As Tradings normalmente estabelecem condições
adicionais sobre os contratos, sendo que algumas são plenamente justificáveis
devido aos compromissos de exportação pactuados com vários meses de
antecedencia.
Nesse caso, é comum utilizar-se como parâmetro os
preços futuros da Bolsa de Chicago para o periodo que se pretende liquidar o
contrato, menos a despesa de frete do local de produção até o Porto de Embarque
e outros descontos, o que se denomina como “Preço de Originação” ou “Diferença
de Base”.
A vantagem aparente está em saber a equivalência
preço-produto para cobrir o custeio, permitindo com certa precisão que se
estime a margem, caso se atinja um determinado rendimento por hectare. Dito de
outra forma, se estabelece por essa via um “Hedge” do volume que estiver sendo transacionado de
forma a cobrir a totalidade ou uma parte substancial dos custos de produção.
Em nossa opinião, o custo financeiro implícito dessa
operação supera facilmente 30% ao ano, sem considerar as implicações
relacionadas à indisponibilidade dos Ativos já hipotecados, as exigências acessórias
e a perda do prêmio que estiver sendo praticado à época da liquidação dos
contratos.
Então, qual seria a melhor saída para os Produtores?
Os Agricultores de Pequeno Porte devem buscar o
crédito oficial, por mais difícil e burocrático que seja, limitando as
operações de troca no que efetivamente não conseguirem comprar à vista.
Os Produtores de maior escala, com propriedades a
partir de 500 hectares, mesmo que atuem como “Pessoas Físicas”, poderão obter
vantagens significativas ao registrarem-se como Exportadores.
Que vantagens seriam essas?
- a) Não incidência do Funrural sobre o Faturamento de
Exportação;
b) Acesso a linhas de ACC (Adiantamento sobre Contratos
de Câmbio), cujas taxas na atualidade
variam de 5,5% a 8% ao ano para
liquidações em até 360 dias;
3 c) Liberdade de determinar o melhor momento para vender a
produção, capturando os preços
mais vantajosos;
4 d) Possibilidade de atuar diretamente no Mercado de
Futuros & Opções, realizando operações de
“Hedge”, gerando ganhos
adicionais a partir de operações de recompra de contratos e outras
estratégias
financeiras que não envolvem a movimentação física dos Grãos;
5 e) Disponibilidade financeira para compra à vista da
totalidade dos insumos, sem a necessidade de fechar pacotes, obtendo dessa
forma descontos substanciais.
A lista não acaba aí.
As empresas Agroexportadoras podem ainda requerer o
regime de Drawback para importação de insumos.
A obtenção de elevados rendimentos agronômicos é um
dos fatores que contribuem para a redução dos custos de produção e para
manutenção da sustentabilidade do negócio. Nesse aspecto, os Agricultores
Brasileiros mostram-se muito preparados e no “Estado da Arte” a nível mundial.
No que diz respeito ao conhecimento dos mecanismos
financeiros disponíveis e estratégias avançadas de comercialização, o setor
ainda é pouco evoluído e altamente dependente.
O grande desafio, segundo o célebre Engenheiro
Agrônomo Polan Lacki, é “o quê e como fazer para que os agricultores
possam ser eficientes e competitivos com menos créditos, com menos subsídios,
com menos investimentos, com menos garantias oficiais de comercialização,
enfim, com menos Estado”.
É dele também a frase que diz: “O Agricultor compra os insumos
no varejo e vende a sua produção no atacado”.
É na crença em conceitos sólidos, como os do Prof. Lacki,
que a CustodoAgro vem fundamentando
os seus esforços, buscando compartilhar conhecimentos e experiências para
crescer junto com os Agricultores.
Eduardo
Lima Porto
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