O evento promovido em março pelas
entidades ligadas ao Movimento Sem Terra (movimento sem personalidade jurídica)
em Eldorado do Sul-RS, que reuniu mais de 6.000 militantes e seguidores,
mostrou o quanto a presidenta Dilma Roussef e a Esquerda em geral têm ‘‘pouco apreço
pela verdade’’.
O discurso da mandatária: ‘‘Nós estamos
vendo, aqui, hoje, que é possível desenvolver uma agricultura familiar de alta
qualidade nos assentamentos. Estou falando para todo o Brasil ouvir. Essa é uma
experiência que deu certo e que mostra que os assentamentos de reforma agrária
representam um alto negócio para os assentados e para o país”.
Segundo informações colhidas na imprensa,
o trabalho da Cootap (cooperativa que congrega 15 assentamentos no RS) reúne
522 famílias em 12 municípios. Os resultados festejados pela presidenta foram,
em resumo, os seguintes:
- Produção Total: 463.467 sacas de arroz (1 saca =
50kg);
- Área Cultivada: 4.648 hectares
- Produtividade: 99,71 sacas/hectare
Sobre os dados acima, cabe uma
rápida avaliação econômica:
- Preço do Arroz - 20/03/2015: R$ 35,00/saca (média
do RS)
- Receita potencial: R$ 16.221.345,00.
Admitindo, apenas por amor ao debate,
que a atividade agrícola tenha gerado uma margem de 25%, teríamos então um
lucro bruto de R$ 4.055.336,25. Se efetivamente
for verdade que 522 famílias estiveram envolvidas no processo de produção,
significa dizer que cada família assentada teve em média um rendimento bruto anual
de R$ 7.768,84.
Assumindo que as informações
divulgadas são verdadeiras, chega-se a uma renda mensal média de R$ 647,40 por
família assentada.
Considerando que o conceito atual
de família envolve pelo menos um casal, o empreendimento agrícola modelo
gerou R$ 323,70/mês por pessoa. Enquanto isso, o piso nacional
do salário-mínimo é de R$ 788,00/mês.
Mas,
no Rio Grande do Sul, os trabalhadores não podem ganhar menos de R$
1.006,88 mensais. É o piso regional. A meu ver, trabalhar por
valores menores do que o salário-mínimo é inaceitável. Alguns poderão até
afirmar que se trata de trabalho escravo.
Cabe colocar em relevo outras questões,
sem entrar no mérito da ‘‘politicagem’’:
1) Notadamente, estiveram presentes
ao evento ao redor de 6.000 pessoas. Não tenho motivos para não acreditar na
capacidade de adesão do MST. Tamanha junção envolve um planejamento criterioso,
sem falar nas despesas de transporte e alimentação. Estimando por baixo,
acredito que o custo de cada participante pode ter facilmente alcançado R$
40,00, significando um dispêndio de pelo menos R$
240.000,00.
2) A infraestrutura colocada à
disposição do evento incluiu milhares de cadeiras, um enorme toldo e sistema de
sonorização. Tendo em conta a experiência de quem já participou de muitos dias-de-campo
e feiras agrícolas por este Brasil, posso afirmar que, por baixo, este custo chegou
a não menos do que R$ 150.000,00.
3) Pelo que se viu, a presidente
saiu de Brasília especialmente para o evento, carregando vários convidados
consigo. Possivelmente, outros vieram de diferentes pontos do país ou mesmo do
RS, mas não acredito que tenham pagado as despesas do próprio bolso. O tempo de
voo entre Brasília e Porto Alegre, em avião de carreira, é de aproximadamente 2h30min.
Conversei com um piloto de Air-Bus A319 (o mesmo avião que serve à presidenta),
que me comentou que o custo/hora/voo pode atingir US$ 12.000,00. Considerando
que são necessárias cinco horas (ida e volta), a presidenta teria gasto ao
redor de R$ 200.000,00, apenas para discursar e fingir que dirigiu uma
colheitadeira.
4) Não tenho como estimar os
gastos com o helicóptero e nem com as centenas de veículos públicos que deram
cobertura logística ao evento do MST, transportando, inclusive, o ‘‘chefe do exército
do Lula’’ -- João Pedro Stédile.
Os dados acima demonstram
tacitamente como os recursos públicos são desperdiçados, sem qualquer pudor, no
Brasil.
A estrutura de armazenagem e
secagem dos grãos foi financiada pelo BNDES durante a gestão de Tarso Genro no
RS.
Este financiamento foi concedido
a ‘‘fundo perdido’’ para o MST?
Como pode uma entidade sem
personalidade jurídica obter um financiamento federal? Considerando o
baixíssimo ingresso de cada Assentado, como é que o financiamento será pago?
Agora, está explicado porque
Stédile esbravejou contra a classe média reacionária
que protestou contra o governo em 15 de março.
Até de Santa se referiu à Dilma. Enquanto isso, a classe média e o
agronegócio, que sustentam este país, seguem demonizados em discursos, eventos e
propagandas realizadas com o dinheiro público.
Eduardo Lima Porto