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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Fusão Bayer-Monsanto - "Se é Bayer é Mon"

A confirmação da transação de compra da totalidade das ações da Monsanto por parte da Bayer, depois de semanas de boatos e anúncios ao Mercado, ocorreu formalmente no dia 14/09/2016.

Trata-se da formação do maior Conglomerado de Pesquisa, Desenvolvimento, Produção e Comercialização de Sementes.

A fusão das duas empresas potencializa brutalmente o seu poder mercadológico no setor de Agroquímicos, onde ambas já atuam com posições dominantes em relação a diversas moléculas. O impacto dessa união é enorme nos canais de distribuição e cultivos-alvo.

É notória a preocupação das duas empresas com uma forte rejeição por parte do Mercado e sobretudo com eventuais impedimentos regulatórios nos Estados Unidos e Europa, tanto é assim que criaram um site específico com um nome bastante sugestivo (www.advancingtogether.com) destinado a ressaltar as motivações da transação, os supostos benefícios que a combinação entre as empresas poderá produzir para os Acionistas e para os Agricultores, entre outros detalhes carregados de adjetivos de marketing. 

Nos últimos dois dias, dediquei várias horas à leitura e a avaliação detalhada das demonstrações financeiras das empresas no período de 2015, além de ter analisado atentamente algumas apresentações recentes da Monsanto.

Esse trabalho, que compartilho com os leitores do Noticias Agrícolas, está dividido nos seguintes tópicos: (i) Aspectos Financeiros da Fusão; (ii) Estratégia Comercial da Monsanto; (iii) Implicações no Mercado Brasileiro; (iv) Prováveis Conseqüências de Longo-Prazo; e (v) O que Podemos Fazer diante desse Cenário?

I - Aspectos Financeiros da Fusão

O volume de dinheiro envolvido nesse negocio surpreendeu o Mundo e gerou enorme repercussão.

Segundo as declarações da Bayer à imprensa internacional, a oferta foi de USD 66 Bilhões a serem pagos à vista pela totalidade da Monsanto.

Uma parte substancial desse montante, ao redor de USD 57 Bilhões, virá de um empréstimo “ponte” contratado com um Consórcio de Bancos Internacionais de primeira linha e o restante do valor envolveria a captação de recursos através da emissão de bonds conversíveis em ações.

Ontem me questionaram se não seria a Monsanto que estaria comprando a Bayer, dado que o negocio agrícola da gigante Alemã é menor em faturamento e não tem a importância estratégica que reconhecidamente a empresa Americana possui nesse segmento.

                                                                                                                                    * USD Mil
DRE (Income Statement) - 2015
Monsanto
Bayer Group (Consolidado)
Bayer Cropscience Division
Faturamento Bruto
USD 15.001,00
USD 50.610,53
USD 11.364,96
EBITDA*
USD   4.831,00
USD 11.258,93
USD   2.640,93
% Margem EBITDA*
    32,20%
      22,24%
       23,24%
·          * Paridade ajustada EUR-USD – 1,0931 (30/12/2015)
·         EBITDA – Earning before Taxes, Depreciation, Amortization = Lucro Operacional antes dos   
          Impostos, Juros, Depreciação/Amortização
·          % Margem EBITDA – Indica o Lucro Operacional como % do Faturamento, antes do pagamento   
          de Impostos, Juros, Depreciação/Amortização. Muito indicado para medir a Capacidade de
          Pagamento em financiamentos.

Do ponto de vista dos acionistas da Monsanto significou um tremendo negócio, equivalente a 13,66x o valor do EBITDA de 2015.

No contexto da Bayer, a divisão Agro passará a ter um faturamento combinado com a operação da Monsanto que equivale ao da poderosa área Farmacêutica do Grupo.

O senso comum indica que os financiadores devem estar muito seguros de que a operação não afetará a solvência do Grupo Bayer.

Nesse contexto, claro está que a Bayer tem plena certeza de que obterá o Retorno sobre o Investimento, superando inúmeras barreiras regulatórias, pressões concorrenciais e outros fatores que podem frustrar as previsões mais conservadoras.

Curioso que dentre os critérios de Governança declarados nas demonstrações financeiras de 2015, a companhia adota uma Matriz de Classificação de Risco para medir o impacto financeiro que determinadas decisões da Diretoria podem trazer para a saúde da empresa.

Valores acima de EUR 1.250.000.000,00 (Hum Bilhão, Duzentos e Cinquenta Milhões de Euros) são considerados como de ALTO RISCO e podem afetar negativamente a solidez financeira. Referida classificação estaria de acordo com as regras estabelecidas pela legislação alemã de valores mobiliários (German Stock Act).

As ações da Bayer fecharam há pouco em baixa de 1,94% (15/09/2016), possivelmente refletindo alguma rejeição do Mercado em relação a compra da Monsanto.

Bayer AG ADR
OTC: BAYRY

II – Estratégia Comercial da Monsanto

Separei alguns slides de uma apresentação recente (Maio/2016) feita pelo Presidente/COO da Monsanto no evento 11th Annual Farm to Market Conference.

1) Milho
O quadro abaixo demonstra a inserção global da empresa, sendo a número 1 nos Estados Unidos, Brasil, Argentina e Leste-Europeu. A participação de mercado no Brasil seria de 50%, indicando uma grande relevância competitiva. Na Argentina, há uma posição dominante com mais de 60% do total cultivado.



  
2) Soja
O objetivo da empresa é atingir até 2025 algo próximo a 58 milhões de hectares (quase que a totalidade da área plantada no Brasil e na Argentina).



3) Nematicidas
Uma das grandes apostas é a comercialização de um Nematicida Biológico, denominado “Nemastrike”, cujo objetivo comercial seria alcançar 125 milhões de Acres ou 50 milhões de hectares até 2025. O lançamento dessa linha está previsto para 2018.


  
4) Core Business e Futura Plataforma
O quadro a seguir sintetiza de maneira clara os objetivos estratégicos da Monsanto para os próximos 10 anos.

Chama atenção que a “nova plataforma” de negócios está baseada: (i) no desenvolvimento de alternativas biológicas, como o “Nemastrike”; (ii) numa linha inoculantes avançados que teriam maior resistência à exposição de Agroquímicos e maior capacidade de transferência de nutrientes para as plantas; e (iii) na constituição de uma plataforma digital de acompanhamento dos cultivos através de imagens satelitais e softwares.



III – Implicações no Mercado Brasileiro

É inegável que a Fusão cria uma posição dominante no Mercado de Sementes e de Agroquímicos, cujo impacto começará a ser sentido logo na próxima Safra, assim que os órgãos “anti-trust” nos Estados Unidos e Europa homologuem a transação.

A experiência mostra que depois que as Equipes Comerciais estiverem devidamente ajustadas, o resultado da Fusão deverá significar preços mais elevados para as Sementes e o estabelecimento de condicionantes comerciais, entre eles a famigerada “Venda Casada”.

Espero estar enganado, mas alguém duvida disso?


Não me surpreenderia ouvir comentários do tipo: “Quem não levar o pacote da Bayer, não terá o Roundup e nem as Sementes da linha Monsanto. Se quer, quer. Se não quer, tem quem queira”.

Alguém já escutou algo do gênero ou é uma viagem da minha cabeça?

Segundo informações de Revendedores Bayer, a companhia já condiciona as compras de uma quantidade determinada de produtos do portfolio, cuja rotação é baixa, para garantir a entrega do Fungicida FOX (carro-chefe das vendas). Essa prática é bem conhecida no Mercado.

Nessa altura, acredito que muitos Revendedores Bayer e Monsanto pelo Brasil afora devam estar alternando-se entre comemorações e angústias. Alguns se tornarão muito fortes e outros perderão a “bandeira”, ainda que representada há anos, pois não haverá como justificar-se a co-existência de canais concorrentes em várias regiões importantes.

No tocante ao Agricultor, o cenário é ainda mais complexo na medida em que as suas opções de escolha estarão reduzidas e sujeitas a condicionantes que certamente irão limitar a autonomia na condução das lavouras.


IV – Prováveis Conseqüências de Longo-Prazo

Infelizmente, não tenho a famosa “Espada de Thundera” para ver além do alcance, mas algumas conseqüencias prováveis se desenham num horizonte não tão distante:

a)  Os Produtores de grãos no Brasil e no resto do Mundo se tornarão ainda mais dependentes, não sendo devaneio pensar que muitos se tornarão verdadeiros “integrados”, nos moldes que já ocorre há anos no setor de Frangos e Suínos. Será difícil saber se a atividade agrícola existe em função do cultivo ou se é apenas uma aplicação a mais onde se usa um determinado “pacote tecnológico”;

b)   As margens na Agricultura serão drenadas com maior vigor em direção a um pequeno grupo de gigantes da area de insumos;

c) Com o Poder Econômico estabelecido pelos Conglomerados, incluíndo Syngenta/Adama controladas pela Chem-China e a fusão entre Dow-Dupont, os Governos e suas Agencias Reguladoras enfrentarão uma enorme pressão para que as regras do jogo estejam alinhadas aos interesses desses grandes grupos. Em certa medida, essa situação já acontece no Brasil há pelo menos 10 anos, onde o Consórcio MAPA-ANVISA-IBAMA impedem através da burocracia o estabelecimento de uma maior concorrência no setor de Defensivos Agricolas;

d)    A China poderá liberar o plantio de Soja GMO, o que poderá incrementar a produção em mais de 10 milhões de toneladas/ano, considerando-se a manutenção da area cultivada atualmente e adicionando-se o diferencial de produtividade que a tecnologia permite;

e)    A China deverá tornar-se auto-suficiente na produção de Milho e deixará de importar;

f)   A India, que atualmente produz Soja Convencional para o consumo domestico, poderá também liberar o plantio de sementes GMO e tornar-se mais um abastecedor do sudeste asiático, diminuindo a dependência da região em relação aos Estados Unidos, Argentina e Brasil;

g) Possibilidade concreta de que alguns países da Africa com grande potencial produtivo, mas que por questões ideológicas ainda proibem o plantio de sementes transgênicas, venham a liberar a tecnologia e se tornem auto-suficientes em Milho e derivados;

V) O que Podemos Fazer diante desse Cenário?

Em primeiro lugar, afastar o “Vitimismo dos Pedintes Profissionai” do nosso Ramo, pois a Era dos Subsídios acabou.

Agricultura é um negocio para gente Competente e não terá mais espaço para Improvisados, tampouco para “Chorões”.

Temos de encarar o negocio da Bayer com a Monsanto como parte de uma evolução normal do Mercado e nessa esteira virão outros semelhantes.

Me parece que devemos estruturar com urgencia um conjunto de medidas importantes para proteção dos interesses do Setor:

1)  Formação de Grupos de Compra, seja na forma de Cooperativas, Condomínios, Associações ou Pools como mecanismo para melhorar o processo negocial;

2)    Pressionar fortemente o Governo para que modifique rapidamente a legislação de insumos, permitindo que os Agricultores organizados possam importar diretamente, que a sua vez se responsabilizarão pelo uso correto no campo e o devido descarte das embalagens;

3)  Implantação de Programas de Capacitação em Gestão Administrativo-Financeira para que os Agricultores possam defender o crédito para suas atividades, de maneira consciente e organizada, evitando-se as armadilhas negociais e a aceitação de condições desfavoráveis de fornecimento simplesmente porque estão oferecendo um Prazo extendido de pagamento;

4)  Criação de um Banco e de uma Seguradora com Capital integralizado exclusivamente por Agricultores, de atuação regional, com gestão profissionalizada e regras rígidas para concessão de crédito obedecendo os parâmetros do Mercado;

5)    Incentivar a formação de Clusters Agroindustriais voltados para agregação de valor da produção;

6)  Desoneração dos impostos incidentes sobre insumos diretos, nos combustíveis e produtos alimentícios voltados para o consumo domestico e para exportação;

7)    Fixação de uma tarifa única e de valor acessível para todas as operações que exijam validação cartorial;

8)    Criação de uma tabela progressiva de Impostos incidentes sobre as operações de Arrendamento de Terras, estabelecendo valores maiores para contratos de curta duração até a isenção a partir de períodos superiores a 10 anos. Essa medida tem por finalidade favorecer o Arrendatário que sabe produzir, trazendo-lhe segurança operacional, financeira e juridica para realização dos investimentos. Isso favorecerá significativamente o setor com a redução da percepção de risco e dos juros cobrados nos financiamentos, além de minimizar os efeitos deleterios da lavagem de dinheiro e da especulação imobiliária com áreas produtivas.


Me parece que a transação bilionária feita pela Bayer-Monsanto pode ser encarada como uma grande Oportunidade de mostrarmos que o Setor está preparado, não é passivo e que poderá ser um excelente parceiro, se esse novo Conglomerado estiver realmente imbuído das boas intenções manifestadas ao Mercado.


Fonte: CustodoAgro – Consultoria Agrícola – Eduardo Lima Porto




terça-feira, 4 de agosto de 2015

Soja Intacta e a Polêmica da Suspensão dos Royalties


Na semana passada, ao tomar conhecimento da concessão de uma tutela antecipada que proibia a cobrança dos royalties da Monsanto sobre a tecnologia Intacta, decidi me aprofundar no assunto e fiquei literalmente assustado.

Postei alguns comentários no “Fala Produtor” do Notícias Agrícolas, tratando de chamar a atenção, principalmente ao fato de que essa medida poderia gerar uma repercussão imediata na China que é o nosso principal destino de exportação.

Não me cabe discutir a legitimidade das partes para defesa de suas teses. Apesar de não ser Advogado e não querer parecer presunçoso, a experiência e o conhecimento de assuntos mais complexos, me permitem a construção de um posicionamento claro a respeito dessa controvérsia.

Acredito que os Agricultores representados na Ação possuem o Direito de pleitear o que lhes pareça correto, buscando esgotar todas as vias possíveis de negociação na defesa dos seus interesses.

Me parece, também, que a Monsanto têm o Direito inquestionável de remunerar-se através dos Royalties pelo desenvolvimento e comercialização da nova tecnologia incorporada nas Sementes Intacta.

O cerne do que quero expor não reside nas questões vinculadas aos Direitos das partes.

Minha preocupação está centrada nas consequências imediatas e de médio prazo que essa medida poderá acarretar no mercado comprador, pois isso traz um risco concreto de rejeição de embarques, justamente num momento em que o setor enfrenta uma situação econômica muito fragilizada.

Pelo fato de não termos uma cultura “exportadora” disseminada e devidamente compreendida por toda a Cadeia de Produção da Soja, existem procedimentos relacionados a comercialização que são absolutamente desconhecidos da maior parte dos Agricultores e até mesmo de grandes empresas Cerealistas ou Cooperativas.

Vou me concentrar na China pelo fato de estarmos embarcando para esse mercado quase 40 milhões de toneladas de Soja em grão.

Em termos gerais, pode-se afirmar que os chineses não possuem uma boa aceitação para os produtos transgênicos. Trata-se de um assunto extremamente polêmico por lá.

Entretanto, devido a melhoria expressiva da capacidade de consumo de centenas de milhões de habitantes nos últimos anos, incrementou-se muito a demanda por proteínas vegetais de ciclo curto para alimentação animal. Tal situação, foi a que justificou pesadamente a entrada da China no mercado internacional como Importador de Soja.

As importações chinesas destinam-se exclusivamente a transformação do grão em Farelo e Óleo, já que para o consumo humano, o País produz ao redor de 11 milhões de Soja Convencional (“GMO-Free”), majoritariamente, nas Províncias do Norte (Heilongjiang, Jiling e Liaoning).

A comercialização de qualquer variedade transgênica na China está subordinada a um rigoroso processo de avaliação e fiscalização, cuja rastreabilidade é determinada por embarque.

O Ministério da Agricultura da China (MOA) e o Departamento de Inspeção e Quarentena são os principais responsáveis pela liberação dos carregamentos agrícolas que ingressam no País.

No caso da Soja, as empresas de biotecnologia como a Monsanto, Basf, Dupont, Syngenta, Bayer, entre outras, devem necessariamente se submeter ao processo de aprovação prévia para efeito de comercialização.

Tomando a Monsanto como base, a empresa deve oferecer garantias concretas de que o produto originário das suas sementes transgênicas corresponde rigorosamente aos parâmetros aprovados.

Há uma enorme preocupação das autoridades chinesas em relação a qualidade, biossegurança e a sanidade dos grãos.

Para isso, exige-se que todo e qualquer Exportador seja devidamente certificado e registrado junto ao Ministério da Agricultura da China. Sem esta licença obtida por intermédio da Monsanto ou através das outras detentoras de tecnologias aprovadas, nenhum lote poderá ser liberado para ingresso no País. Da mesma forma, todos os Importadores estão submetidos a regras semelhantes que permitem o acompanhamento total do processo.

Trata-se de uma rede de informação complexa que possui diferentes níveis de responsabilidade envolvendo vários integrantes da Cadeia de Fornecimento.

A título de informação, transcrevo abaixo 3 links disponibilizados pelas empresas detentoras que demonstram os procedimentos para Registro de Exportadores:




O assunto é tão sério para os chineses, que no ano passado foram cancelados contratos envolvendo mais de 600.000 toneladas de Milho Americano contendo uma variedade desenvolvida pela Syngenta, que naquele momento ainda não estava aprovada.

Empresas do porte da Cargill sofreram prejuízos milionários, assim como algumas Cooperativas que já estavam vendendo diretamente para aquele mercado.

Atualmente, é de conhecimento que alguns prejudicados estão processando a Syngenta por haver liberado a semente para comercialização, sob o argumento de que não houve a devida comunicação sobre o fato de que o produto estava pendente de aprovação na China.

Claro está que ambientes altamente regulados favorecem muito as grandes empresas do setor, pois o cruzamento de informações permite a verificação, por exemplo, se os Royalties recebidos de uma determinada região correspondem ou não ao volume de sementes comercializada.

Mesmo não querendo entrar no mérito do pleito judicial, é certo que o Agricultor possui o Direito assegurado por Lei de reservar uma parte das sementes adquiridas para o replantio, sendo expressamente vedada a revenda do produto. No entanto, é sabido que a comercialização de sementes pirateadas é uma prática que permanece disseminada em determinadas regiões.

Por outro lado, há que se considerar que as diferenças de produtividade, de região para região e mesmo de Agricultor para Agricultor, podem variar muito e ainda suscitar questionamentos por parte de qualquer um dos participantes da Cadeia de Produção no que tange aos valores que poderão ser ou não devidos a título de royalties.

Na essência, o objetivo da rastreabilidade é plenamente justificável. Porém, os custos indiretos desse processo não são demonstrados de maneira transparente.

Nesse sentido, é imperativo que o Agricultor tenha absoluto conhecimento dos procedimentos administrativos que terá de implantar, a fim de que a conveniência na adoção da tecnologia seja plenamente avaliada.

Na hora de vender a semente, fala-se muito dos benefícios e dos lucros potenciais, mas se discorre pouco ou quase nada sobre as obrigações. 

O contexto está permeado de enorme desinformação, o que explica, em parte, o desentendimento constante em relação a parcela dos royalties que é cobrada na moega.

Concretamente, o percentual de 7,5% cobrado no recebimento se refere a lotes que não tenham tido a sua origem devidamente comprovada. Quem adquire a semente certificada, já paga os royalties que estão embutidos no preço.

A discussão tornada pública na semana passada transbordou para reclamações em relação ao custo das sementes.

No meu humilde entendimento, trata-se de uma questão de mercado e que nada teria a ver com a judicialização perseguida e/ou com a interferência do Governo no assunto.

Com o devido respeito a opiniões divergentes, me parece que ao admitir semelhante postulação, estaremos, ao mesmo tempo, abrindo o espaço para o debate de assuntos com elevado conteúdo ideológico e que definitivamente não interessam para a Agricultura.

Há que se mencionar também o elevado risco que a medida traz do ponto de vista econômico, pois a determinação judicial obtida em caráter provisório, por certo que não terá o poder de alterar a regulamentação do mercado chinês, apenas para citar o nosso maior comprador.

Os chineses tratam as importações de Soja de maneira estratégica, possuem “bala na agulha” de sobra para impor qualquer retaliação, seja de ordem tarifária ou não, em relação a Soja brasileira ou qualquer outro produto que lhes pareça conveniente.

Há poucas semanas do início do plantio, há que se levar em conta que milhares de adquirentes da Semente Intacta no Brasil afora, eventualmente, poderão não querer estar submetidos às incertezas de terem problemas de comercialização.

Finalizo as minhas ponderações com alguns questionamentos de ordem reflexiva:

     a) Houve o cuidado de se estabelecer uma negociação prévia com o Governo Chinês 
     acerca da necessidade de se mudar o sistema de rastreabilidade, por conta da insatisfação dos produtores com a cobrança dos royalties?

2  b) Tendo em vista a magnitude da controvérsia, no caso do pleito não resultar conforme esperado, quem assumirá os prejuízos que poderão advir?

3   c) As Tradings são responsáveis pela viabilização da maior parte do que é exportado para a China. Em muitos casos, também atuam como financiadoras da produção agrícola. A discussão sobre os efeitos e riscos da medida judicial contou com a participação delas?

O tema é amplo e bastante complexo, sendo no mínimo prudente que se estabeleça uma discussão transparente e pública, não limitada aos interesses mais imediatos de uma parte da Cadeia Produtiva.


Definitivamente, em matéria de Economia e Diplomacia Comercial, nós estamos muito distantes de sermos uma referência no Mundo.

Eduardo Lima Porto