terça-feira, 4 de agosto de 2015

Soja Intacta e a Polêmica da Suspensão dos Royalties


Na semana passada, ao tomar conhecimento da concessão de uma tutela antecipada que proibia a cobrança dos royalties da Monsanto sobre a tecnologia Intacta, decidi me aprofundar no assunto e fiquei literalmente assustado.

Postei alguns comentários no “Fala Produtor” do Notícias Agrícolas, tratando de chamar a atenção, principalmente ao fato de que essa medida poderia gerar uma repercussão imediata na China que é o nosso principal destino de exportação.

Não me cabe discutir a legitimidade das partes para defesa de suas teses. Apesar de não ser Advogado e não querer parecer presunçoso, a experiência e o conhecimento de assuntos mais complexos, me permitem a construção de um posicionamento claro a respeito dessa controvérsia.

Acredito que os Agricultores representados na Ação possuem o Direito de pleitear o que lhes pareça correto, buscando esgotar todas as vias possíveis de negociação na defesa dos seus interesses.

Me parece, também, que a Monsanto têm o Direito inquestionável de remunerar-se através dos Royalties pelo desenvolvimento e comercialização da nova tecnologia incorporada nas Sementes Intacta.

O cerne do que quero expor não reside nas questões vinculadas aos Direitos das partes.

Minha preocupação está centrada nas consequências imediatas e de médio prazo que essa medida poderá acarretar no mercado comprador, pois isso traz um risco concreto de rejeição de embarques, justamente num momento em que o setor enfrenta uma situação econômica muito fragilizada.

Pelo fato de não termos uma cultura “exportadora” disseminada e devidamente compreendida por toda a Cadeia de Produção da Soja, existem procedimentos relacionados a comercialização que são absolutamente desconhecidos da maior parte dos Agricultores e até mesmo de grandes empresas Cerealistas ou Cooperativas.

Vou me concentrar na China pelo fato de estarmos embarcando para esse mercado quase 40 milhões de toneladas de Soja em grão.

Em termos gerais, pode-se afirmar que os chineses não possuem uma boa aceitação para os produtos transgênicos. Trata-se de um assunto extremamente polêmico por lá.

Entretanto, devido a melhoria expressiva da capacidade de consumo de centenas de milhões de habitantes nos últimos anos, incrementou-se muito a demanda por proteínas vegetais de ciclo curto para alimentação animal. Tal situação, foi a que justificou pesadamente a entrada da China no mercado internacional como Importador de Soja.

As importações chinesas destinam-se exclusivamente a transformação do grão em Farelo e Óleo, já que para o consumo humano, o País produz ao redor de 11 milhões de Soja Convencional (“GMO-Free”), majoritariamente, nas Províncias do Norte (Heilongjiang, Jiling e Liaoning).

A comercialização de qualquer variedade transgênica na China está subordinada a um rigoroso processo de avaliação e fiscalização, cuja rastreabilidade é determinada por embarque.

O Ministério da Agricultura da China (MOA) e o Departamento de Inspeção e Quarentena são os principais responsáveis pela liberação dos carregamentos agrícolas que ingressam no País.

No caso da Soja, as empresas de biotecnologia como a Monsanto, Basf, Dupont, Syngenta, Bayer, entre outras, devem necessariamente se submeter ao processo de aprovação prévia para efeito de comercialização.

Tomando a Monsanto como base, a empresa deve oferecer garantias concretas de que o produto originário das suas sementes transgênicas corresponde rigorosamente aos parâmetros aprovados.

Há uma enorme preocupação das autoridades chinesas em relação a qualidade, biossegurança e a sanidade dos grãos.

Para isso, exige-se que todo e qualquer Exportador seja devidamente certificado e registrado junto ao Ministério da Agricultura da China. Sem esta licença obtida por intermédio da Monsanto ou através das outras detentoras de tecnologias aprovadas, nenhum lote poderá ser liberado para ingresso no País. Da mesma forma, todos os Importadores estão submetidos a regras semelhantes que permitem o acompanhamento total do processo.

Trata-se de uma rede de informação complexa que possui diferentes níveis de responsabilidade envolvendo vários integrantes da Cadeia de Fornecimento.

A título de informação, transcrevo abaixo 3 links disponibilizados pelas empresas detentoras que demonstram os procedimentos para Registro de Exportadores:




O assunto é tão sério para os chineses, que no ano passado foram cancelados contratos envolvendo mais de 600.000 toneladas de Milho Americano contendo uma variedade desenvolvida pela Syngenta, que naquele momento ainda não estava aprovada.

Empresas do porte da Cargill sofreram prejuízos milionários, assim como algumas Cooperativas que já estavam vendendo diretamente para aquele mercado.

Atualmente, é de conhecimento que alguns prejudicados estão processando a Syngenta por haver liberado a semente para comercialização, sob o argumento de que não houve a devida comunicação sobre o fato de que o produto estava pendente de aprovação na China.

Claro está que ambientes altamente regulados favorecem muito as grandes empresas do setor, pois o cruzamento de informações permite a verificação, por exemplo, se os Royalties recebidos de uma determinada região correspondem ou não ao volume de sementes comercializada.

Mesmo não querendo entrar no mérito do pleito judicial, é certo que o Agricultor possui o Direito assegurado por Lei de reservar uma parte das sementes adquiridas para o replantio, sendo expressamente vedada a revenda do produto. No entanto, é sabido que a comercialização de sementes pirateadas é uma prática que permanece disseminada em determinadas regiões.

Por outro lado, há que se considerar que as diferenças de produtividade, de região para região e mesmo de Agricultor para Agricultor, podem variar muito e ainda suscitar questionamentos por parte de qualquer um dos participantes da Cadeia de Produção no que tange aos valores que poderão ser ou não devidos a título de royalties.

Na essência, o objetivo da rastreabilidade é plenamente justificável. Porém, os custos indiretos desse processo não são demonstrados de maneira transparente.

Nesse sentido, é imperativo que o Agricultor tenha absoluto conhecimento dos procedimentos administrativos que terá de implantar, a fim de que a conveniência na adoção da tecnologia seja plenamente avaliada.

Na hora de vender a semente, fala-se muito dos benefícios e dos lucros potenciais, mas se discorre pouco ou quase nada sobre as obrigações. 

O contexto está permeado de enorme desinformação, o que explica, em parte, o desentendimento constante em relação a parcela dos royalties que é cobrada na moega.

Concretamente, o percentual de 7,5% cobrado no recebimento se refere a lotes que não tenham tido a sua origem devidamente comprovada. Quem adquire a semente certificada, já paga os royalties que estão embutidos no preço.

A discussão tornada pública na semana passada transbordou para reclamações em relação ao custo das sementes.

No meu humilde entendimento, trata-se de uma questão de mercado e que nada teria a ver com a judicialização perseguida e/ou com a interferência do Governo no assunto.

Com o devido respeito a opiniões divergentes, me parece que ao admitir semelhante postulação, estaremos, ao mesmo tempo, abrindo o espaço para o debate de assuntos com elevado conteúdo ideológico e que definitivamente não interessam para a Agricultura.

Há que se mencionar também o elevado risco que a medida traz do ponto de vista econômico, pois a determinação judicial obtida em caráter provisório, por certo que não terá o poder de alterar a regulamentação do mercado chinês, apenas para citar o nosso maior comprador.

Os chineses tratam as importações de Soja de maneira estratégica, possuem “bala na agulha” de sobra para impor qualquer retaliação, seja de ordem tarifária ou não, em relação a Soja brasileira ou qualquer outro produto que lhes pareça conveniente.

Há poucas semanas do início do plantio, há que se levar em conta que milhares de adquirentes da Semente Intacta no Brasil afora, eventualmente, poderão não querer estar submetidos às incertezas de terem problemas de comercialização.

Finalizo as minhas ponderações com alguns questionamentos de ordem reflexiva:

     a) Houve o cuidado de se estabelecer uma negociação prévia com o Governo Chinês 
     acerca da necessidade de se mudar o sistema de rastreabilidade, por conta da insatisfação dos produtores com a cobrança dos royalties?

2  b) Tendo em vista a magnitude da controvérsia, no caso do pleito não resultar conforme esperado, quem assumirá os prejuízos que poderão advir?

3   c) As Tradings são responsáveis pela viabilização da maior parte do que é exportado para a China. Em muitos casos, também atuam como financiadoras da produção agrícola. A discussão sobre os efeitos e riscos da medida judicial contou com a participação delas?

O tema é amplo e bastante complexo, sendo no mínimo prudente que se estabeleça uma discussão transparente e pública, não limitada aos interesses mais imediatos de uma parte da Cadeia Produtiva.


Definitivamente, em matéria de Economia e Diplomacia Comercial, nós estamos muito distantes de sermos uma referência no Mundo.

Eduardo Lima Porto

domingo, 22 de março de 2015

ARROZ DO MST: Dilma promove a Agricultura da Miséria (Façam as Contas)...

O evento promovido em março pelas entidades ligadas ao Movimento Sem Terra (movimento sem personalidade jurídica) em Eldorado do Sul-RS, que reuniu mais de 6.000 militantes e seguidores, mostrou o quanto a presidenta Dilma Roussef e a Esquerda em geral têm ‘‘pouco apreço pela verdade’’.
  
O discurso da mandatária: ‘‘Nós estamos vendo, aqui, hoje, que é possível desenvolver uma agricultura familiar de alta qualidade nos assentamentos. Estou falando para todo o Brasil ouvir. Essa é uma experiência que deu certo e que mostra que os assentamentos de reforma agrária representam um alto negócio para os assentados e para o país”.

Segundo informações colhidas na imprensa, o trabalho da Cootap (cooperativa que congrega 15 assentamentos no RS) reúne 522 famílias em 12 municípios. Os resultados festejados pela presidenta foram, em resumo, os seguintes:

- Produção Total: 463.467 sacas de arroz (1 saca = 50kg);
- Área Cultivada: 4.648 hectares
- Produtividade: 99,71 sacas/hectare


Sobre os dados acima, cabe uma rápida avaliação econômica:

- Preço do Arroz - 20/03/2015: R$ 35,00/saca (média do RS)
- Receita potencial: R$ 16.221.345,00.


Admitindo, apenas por amor ao debate, que a atividade agrícola tenha gerado uma margem de 25%, teríamos então um lucro bruto de R$ 4.055.336,25. Se efetivamente for verdade que 522 famílias estiveram envolvidas no processo de produção, significa dizer que cada família assentada teve em média um rendimento bruto anual de R$ 7.768,84.

Assumindo que as informações divulgadas são verdadeiras, chega-se a uma renda mensal média de R$ 647,40 por família assentada.

Considerando que o conceito atual de família envolve pelo menos um casal, o empreendimento agrícola modelo gerou R$ 323,70/mês por pessoa. Enquanto isso, o piso nacional do salário-mínimo é de R$ 788,00/mês. 

Mas, no Rio Grande do Sul, os trabalhadores não podem ganhar menos de R$ 1.006,88 mensais. É o piso regional. A meu ver, trabalhar por valores menores do que o salário-mínimo é inaceitável. Alguns poderão até afirmar que se trata de trabalho escravo.

Cabe colocar em relevo outras questões, sem entrar no mérito da ‘‘politicagem’’:

1) Notadamente, estiveram presentes ao evento ao redor de 6.000 pessoas. Não tenho motivos para não acreditar na capacidade de adesão do MST. Tamanha junção envolve um planejamento criterioso, sem falar nas despesas de transporte e alimentação. Estimando por baixo, acredito que o custo de cada participante pode ter facilmente alcançado R$ 40,00, significando um dispêndio de pelo menos R$ 240.000,00.

2) A infraestrutura colocada à disposição do evento incluiu milhares de cadeiras, um enorme toldo e sistema de sonorização. Tendo em conta a experiência de quem já participou de muitos dias-de-campo e feiras agrícolas por este Brasil, posso afirmar que, por baixo, este custo chegou a não menos do que R$ 150.000,00.

3) Pelo que se viu, a presidente saiu de Brasília especialmente para o evento, carregando vários convidados consigo. Possivelmente, outros vieram de diferentes pontos do país ou mesmo do RS, mas não acredito que tenham pagado as despesas do próprio bolso. O tempo de voo entre Brasília e Porto Alegre, em avião de carreira, é de aproximadamente 2h30min. Conversei com um piloto de Air-Bus A319 (o mesmo avião que serve à presidenta), que me comentou que o custo/hora/voo pode atingir US$ 12.000,00. Considerando que são necessárias cinco horas (ida e volta), a presidenta teria gasto ao redor de R$ 200.000,00, apenas para discursar e fingir que dirigiu uma colheitadeira.

4) Não tenho como estimar os gastos com o helicóptero e nem com as centenas de veículos públicos que deram cobertura logística ao evento do MST, transportando, inclusive, o ‘‘chefe do exército do Lula’’ -- João Pedro Stédile.

Os dados acima demonstram tacitamente como os recursos públicos são desperdiçados, sem qualquer pudor, no Brasil.

A estrutura de armazenagem e secagem dos grãos foi financiada pelo BNDES durante a gestão de Tarso Genro no RS.

Este financiamento foi concedido a ‘‘fundo perdido’’ para o MST? 

Como pode uma entidade sem personalidade jurídica obter um financiamento federal? Considerando o baixíssimo ingresso de cada Assentado, como é que o financiamento será pago?


Agora, está explicado porque Stédile esbravejou contra a classe média reacionária que protestou contra o governo em 15 de março. 

Até de Santa se referiu à Dilma. Enquanto isso, a classe média e o agronegócio, que sustentam este país, seguem demonizados em discursos, eventos e propagandas realizadas com o dinheiro público.

Eduardo Lima Porto

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Drawback Agropecuário está na Lei, mas é como a Cabeça do Bacalhau. Até hoje ninguém viu!

Em Maio de 2010, publiquei um Artigo cujo titulo foi uma provocação direta ao Governo, no qual criticava a eficácia da Portaria 467, assinada pelo MDIC e pela Receita Federal, editada no Diário Oficial da União no dia 25/03/2010.

Há mais de quatro anos, em plena campanha eleitoral, o Coordenador Geral de Assuntos Multilaterais da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, Senhor Luiz Carlos Carmona, havia anunciado que o objetivo da medida era: “contribuir para redução nos preços dos insumos utilizados na produção agropecuária, como adubos, defensivos e medicamentos veterinários”. O funcionário ainda afirmou, que: “...o custo de produção para exportação pode reduzir e tornar o produto final mais competitivo”.

Na ocasião, chamei o anuncio de Conversa para Boi Dormir numa tentativa de provocar o Governo a demonstrar como funcionaria o mecanismo de Drawback, tendo em vista as várias contradições e incongruências em relação a outros dispositivos vigentes, os quais tornam o Brasil um dos piores países para se investir, segundo a publicação Doing Business elaborada pelo Banco Mundial.

Infelizmente, eu não estava errado. O Boi que já havia dormido, entrou num coma profundo.

É isso mesmo. O Drawback Agropecuário é como a Cabeça do Bacalhau. Ninguém viu. 

Perguntei para vários operadores importantes do Setor se alguém havia ouvido falar a respeito. A resposta foi absolutamente negativa.

As noticias deram conta que a medida traria uma redução na incidência tributária sobre o custo dos insumos importados, daqueles produtores que pudessem comprovar histórico ou que viessem a apresentar um Projeto de Exportação.

Em tese, um produtor de Soja poderia importar Defensivos Agrícolas direto da China no limite de até 40% do montante exportado, o que equivaleria dizer que se o volume de exportação atingisse USD 10 milhões/ano, as compras internacionais estariam isentas de impostos até o limite de USD 4 milhões/ano.

Ao contrário do que se propaga, os insumos agrícolas estão isentos de PIS/Cofins e em alguns casos até de ICMS. Algumas moléculas estão gravadas pelo Imposto de Importação que varia de 2% a 14% sobre a base CIF.

Portanto, não são os tributos os responsáveis pelos altos preços praticados na venda dos Agroquímicos no Brasil.

Em 19/06/2012, encaminhei por email uma consulta formal ao Senhor Luiz Claudio Carmona da Coordenadoria-Geral de Assuntos Multilaterais da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI), com cópia para os Senhores Girabis Ramos e Luis Eduardo Rangel (ambos Diretores de Departamento no Ministério da Agricultura em Brasília) que na época eram responsáveis pela regulamentação de insumos agrícolas.

Transcrevo a seguir as questões que foram submetidas a consulta, as quais são de extrema relevância para a Agricultura Brasileira:

1) Se o Produtor Rural ou Cooperativa Agropecuária possuir o RADAR da Receita Federal e estiver em condições de obter o direito de importação sob o regime do Drawback Integrado, poderá proceder sem objeções a negociação de compra no exterior de um Defensivo Agrícola pronto para o uso na lavoura?

2) Em se tratando de Defensivo Agrícola já formulado, utilizado como insumo direto ou para "consumo próprio", não destinado a Revenda, o Ministério da Agricultura pode autorizar a importação sem a necessidade de Registro?

3) Em se tratando de fornecedor estrangeiro, cujo produto por ele fabricado já conste de Registro aprovado pelo Ministério da Agricultura, o Produtor Rural ou Cooperativa poderá realizar a compra direta sob o regime de Drawback?

4) Quais são os documentos necessários para obtenção da anuência do Ministério da Agricultura no caso das Licenças de Importação sob o regime de Drawback?

5) Quais são os dispositivos legais que amparam a matéria em questão?

Mesmo tendo cobrado reiteradas vezes, não obtive qualquer resposta.

Acredito que se as Lideranças Agrícolas e os próprios produtores começarem a pressionar de fato para que os dispositivos sejam cumpridos, talvez cheguemos a algum avanço.

Diante de um quadro internacional que aponta para Preços descendentes em 2015, a liberdade de importação direta, em tese garantida pela Portaria 467, permitiria uma significativa redução nos Custos de Produção e aumentaria o folego financeiro de milhares de produtores.

Propaganda enganosa quando feita pelo Governo também é Crime.

Eduardo Lima Porto 

P.S.: Link para o artigo publicado em Maio/2010:  
http://www.noticiasagricolas.com.br/artigos/artigos-principais/66586-drawback-integrado--vai-mesmo-reduzir-o-custo-de-producaor-verdade-ou-conversa-pra-boi-dormirr.html#.VAUxPkvMGOM